CONTRADIÇÕES DA PRODUÇÃO DO TURISMO EM PEQUENAS CIDADES BAIANAS: UM ESTUDO SOBRE A RECENTE URBANIZAÇÃO DE ITACARÉ, LITORAL SUL DA BAHIA
Paulo Fernando Meliani
Resumo
A inserção da pequena cidade de Itacaré nos circuitos nacionais e internacionais do turismo, ao final dos anos 1990, promoveu mudanças na urbanização e na produção dos espaços intra-urbanos do município. Tornada destino turístico internacional por meio de investimentos públicos e privados, Itacaré virou moda nos anos 2000, vendida como paraíso ecológico principalmente para surfistas e ecoturistas. A economia do turismo tem determinado a produção do espaço da cidade de Itacaré no sentido de uma urbanização não apenas “turística”, nos termos de Mullins, mas também de uma urbanização periférica, com a formação de aglomerados de exclusão no entorno e em interstícios da antiga vila. O objetivo deste estudo foi o de identificar e quantificar a expansão urbana recente da cidade de Itacaré, a partir da interpretação de séries históricas de fotografias aéreas, imagens de satélite e mapas, bem como e fundamentalmente reconhecer como o turismo tem determinado a produção do espaço intra-urbano. Para o reconhecimento desta determinação, recorremos à “formação socioespacial”, nos termos de Milton Santos, como categoria de análise da dinâmica social que engendra a urbanização recente de Itacaré. Sintetizando os resultados, podemos afirmar que, em Itacaré, o turismo produz e organiza o espaço na cidade gerando estruturas fragmentadas em uma sorte de espaços selecionados para uso turístico, que estão, muitas vezes, plenos de contatos com outros espaços desprezados pela atividade. A urbanização em Itacaré avança por espaços até então dominados pelos elementos naturais, descaracterizando a própria imagem ecológica que serve como chamariz para o turismo. Forjada como uma espécie de marca do turismo, esta imagem ecológica é banalizada por meio da incontável difusão publicitária e pela multiplicidade de produtos e empreendimentos ecológicos vendidos em Itacaré. O turismo em Itacaré parece se reproduzir do mesmo modo que fez em alguns outros lugares, inclusive na Bahia: depois de “descobertos” e tornados “moda”, vão se degradando e se tornando obsoletos pelo excesso de uma produção alheia e descuidada.
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ISSN online: 2358-5293
ISSN cd rom: 2176-5162
Periódico vinculado à Rede de Pesquisas Cidades Médias e Pequenas da Bahia (Rede CMP)